Arquivo | abril 2012

Sete dias na África

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Quantos dias serão necessários para mudar a vida de uma pessoa? De coração, acredito que isso depende muito da resposta a outra pergunta: Quanto essa pessoa está disposta a mudar?

Sei que nada é capaz de mudar uma pessoa que não esteja aberta para transformações, mesmo que necessárias.

Entre o ensino e a prática dele, há uma ponte chamada “decisão”. E ninguém pode cruzar essa ponte por nós, nem mesmo nos forçar a atravessá-la. A prática do que ouvimos e experimentamos depende não só do aprendizado, mas também de uma real decisão de aprender e viver o que aprendemos!

No mundo e no tempo em que vivemos, muita gente parece ter se enrijecido tanto, que já não percebe o quanto precisa mudar.

Os dias são maus e a mente de muitas pessoas já está cauterizada o suficiente para não lhes permitir perceber sequer a verdade sobre si mesmas. Ainda que contemplem sua imagem todos os dias no espelho, não conseguem notar as imperfeições produzidas pelo distanciamento da simplicidade, da pureza, da inocência e da humildade.

Mesmo que outros lhes gritem aos ouvidos quanto se distanciaram dos valores e princípios de uma vida significativa, relevante e inspiradora, não são capazes de admitir que o orgulho, a ganância, a mesquinhez e o egoísmo os fizeram ser menos humanos e nada cristãos.

É preciso querer mudar para poder ser mudado. E isso exige insatisfação pessoal, desejo constante de amadurecimento, admissão de nossas falhas, debilidades, deficiências e imperfeições. Tudo isso é fruto de autocrítica, autoavaliação e disposição para o crescimento. Requer determinação de nos tornarmos pessoas melhores.

Nos dias atuais, o Evangelho tem sido banalizado, e não são poucos os que o têm usado como fonte de lucro e promoção pessoal, lamentavelmente.

Em nome da fé, de Deus ou apenas de nossos sonhos, desejos, vontades ou meros caprichos, parte da Igreja tem se deixado induzir ao consumismo barato. Sonhamos alto, queremos muito, desejamos tudo, e nunca nos satisfazemos.

Sonhamos com carros caros, roupas de grife internacional, bolsas de marcas renomadas, sapatos e jóias deslumbrantes, e isso para chamarmos a atenção, ostentando o que alguns chamam de sinais de prosperidade.

Esquecemos que o Evangelho genuíno nos chama para a cruz (Lucas 9.23), nos tira do foco, e centraliza Cristo em nós, que é a esperança da glória (Col. 1.27c). E, quando Cristo é o centro, o pobre, o carente e o necessitado são o alvo!

Como Igreja de Cristo, precisamos urgentemente voltar ao Evangelho simples, puro. Aos rudimentos elementares da fé cristã, aos princípios básicos da Sã Doutrina, aos conceitos e valores do Reino, onde o amor, a misericórdia e a compaixão movem nossos corações, motivam as boas obras e nos tornam pessoas melhores – cristãos verdadeiros, que se parecem com Cristo e vivem como Ele – morrendo em favor dos que, sem esperança, sem alternativas e sem perspectivas de dias melhores, esperam pela salvação que vem do Alto.

Quando entendermos, de fato e de verdade, os ensinos e o exemplo do Mestre (Fil. 2. 5-8) e decidirmos colocá-los em prática, nossas motivações, nossas ações e investimentos de tempo, de esforços, recursos, e de vida serão diferentes e estarão voltados aos que precisam, e não àquilo de que precisamos ou acreditamos precisar.

Durante sete dias na África, meus olhos puderam contemplar uma realidade desesperadora de miséria espalhada por todos os lados.

Sei que já vimos isso em documentários ou reportagens na TV, mas ver tudo isso in loco é algo que pode ser, para quem busca crescer e melhorar, uma experiência transformadora.

Enquanto dávamos treinamento para pouco mais de 20 pastores de uma missão que apoiamos em Moçambique, tive a chance de viver experiências que marcaram minha vida para sempre.

Numa visita a um posto de saúde, na região de Dondo, tive a oportunidade de ver pessoas marcadas pela dor, pela fome, e pelo sofrimento, à espera de atendimento médico e de medicamentos que nem sempre chegam.

Massacrados por doenças como malária e AIDS, mães e filhos espalhados pelo chão permitem ver que já não possuem sequer forças para espantar as moscas que pousam em seus rostos. A cena é deveras triste e este é apenas um exemplo do que se vê por ali todos os dias.

Diante de tanto sofrimento e miséria, é preciso ser forte para não sucumbir à depressão ante o sentimento desesperador de impotência que nos quer dominar.

Alguns missionários, tomados por estes sentimentos, deixam o campo missionário por se deixarem levar pela impressão de que não há o que se possa fazer.

Nenhuma ação política ou social poderia mudar tal realidade!

Só o poder do amor, da entrega de nós mesmos, frutos de Cristo em nós, da obra do Evangelho em nossas vidas, do operar do Espírito em nossos corações, com o poder de Cristo Jesus, são capazes de dar alguma esperança para uma multidão desesperada e desiludida neste nosso mundo carente e necessitado.

Somos mudados diante de condições tão diferentes da nossa própria realidade, pois por mais difícil que seja a nossa condição de vida, em nada se compara ao que se pode ver nas regiões pobres da África. Somos “forçados” a admitir que, graças a Deus, não sabemos o que é sofrer. Não conhecemos a miséria!

Ao mesmo tempo, somos abençoados por ver que podemos ajudar. Podemos nos doar e fazer, ainda que pouco, algo que pode ajudar ao menos alguns.

Com uma oferta mensal de R$ 480,00 (quatrocentos e oitenta reais), é possível sustentar um pastor com sua esposa e quatro filhos. Não é tanto. Não é impossível!

Sete dias na África me tornaram um pouco menos egoísta, um pouco mais humano e muito, muito mais consciente, graças a Deus.

Hoje, sei que posso fazer algo por mais alguns. E mais: sei que devo fazer mais do que antes pensava ser possível ou sentia ser necessário (Tiago 4.17 + I João 3.17).

Estamos vivendo dias em que o mundo clama. E a Igreja deve despertar-se novamente para a obra missionária. É tempo de frutificar, mais que nunca! É tempo de entender que, no último dia, só duas coisas vão contar: quanto de Cristo trazemos em nós mesmos, e quantos para Cristo levaremos conosco.

Se queremos ser mudados, comecemos por voltar nossos olhos para os lados, buscando encontrar os que precisam ser socorridos e os que podemos ajudar.

Ah, você não pode ir à África? Então, que tal o sertão nordestino?

Você quer ajudar? Você quer mudar, melhorar? Vivamos o verdadeiro cristianismo. Nele, o corpo é entregue, os braços são abertos, e o sangue é derramado. A vida é doada em amor (Rom. 12.1, 2 + João 15.13 + 1 João 3.16).

Jesus te abençoe, conscientize, e levante para abençoar outros. Shalom!

 Dawidh Alves